Valorização dos professores de educação infantil e do ensino fundamental

15-03-2011 10:33

 

PROFESSORA DE EDUCAÇÃO INFANTIL PEDE SOCORRO

 

O Ministro da Educação Fernando Haddad no caderno OPINIÃO da Folha de S. Paulo (29/03/2010) em seu artigo “Educação: duas visões“ cita “... recair sobre os ombros do magistério toda a responsabilidade pela baixa qualidade do ensino. As instituições de ensino superior que os formam e os gestores que os contratam...”. Esses dois pontos foram um tiro certeiro para nossa reflexão. Por qual razão em nenhum espaço sério, escrito por profissionais conceituados, é dada ênfase ao papel dos professores universitários e à irresponsabilidade concreta dos mesmos, quando habilitam (mas não qualificam) professores formados no seio acadêmico?

Esquecem-se os “ESPECIALISTAS” – críticos mais ardentes dos professores - que foram eles que “despejaram” nas salas de aula esses profissionais? Hoje os professores de educação infantil e do ensino fundamental necessitam de nível superior (Saudades das normalistas!). Será que esses profissionais não saem recheados de teoria e despreparados para a prática em sala de aula?

Poucos são cientes de que a grande maioria desses “ESPECIALISTAS” são educadores de gabinete (teóricos reprodutores de experiências realizadas em escolas de países desenvolvidos, que contam com toda infraestrutura para aplicação das concepções defendidas). Eles nunca compartilharam o cotidiano de uma sala de aula ou exercitaram a convivência com crianças de escolas, creches e famílias da periferia, onde está instalada a maioria das escolas públicas do Brasil. Para lá eles mandam seus alunos “fazerem pesquisa”, observando poucas horas durante o ano, num canto das salas de aula, registrando as ações dos professores. Eles, em sua inexistente experiência, observam, julgam e definem ações inadequadas dos professores. Mas... devido ao pouco tempo...muito pouco aprendem.

Pesquisa? O professor regente (somente ele) detém o melhor campo de pesquisa para propor, cooperar e intervir nas políticas públicas para a educação.

Ele faz a verdadeira pesquisa de campo. Ele conhece o emocional da criança, sua saúde, os problemas de seus pais para a sobrevivência. Ele é um multiplicador e parceiro da família. Mas... será que isso sensibiliza o Estado, os políticos, as universidades e os meios de comunicação?

Quem jamais exerceu a docência junto aos alunos da primeira infância, não poderia ter o poder de avaliar, definir metodologias de ensino, sugerir estratégias de desenvolvimento do saber, formar e avaliar professores. Os teóricos criam teorias, mas só quem convive e pratica pode saber se elas podem ser executadas.  

Nos cursos superiores, os professores da educação básica tiveram experiência em regência? Estágio é observação, não é prática pedagógica.

Aí reside um dos maiores vazios das propostas educacionais. Talvez, a mais contundente causa do fracasso e da evasão escolar.

Qual é o valor dado a um professor de educação infantil ou professor de ensino fundamental? Já vimos um único artigo publicado por esses profissionais? Vemos muitos artigos sobre educação infantil, alfabetização, inclusão, evasão etc., porém, eles têm que ser assinados por mestres ou doutores, devido à credibilidade e respeitabilidade.

O professor é hoje letra morta no sistema de ensino, na área jurídica e nas políticas públicas. Principalmente o professor da educação infantil, transformado agora em agente educativo, monitor, mero “cuidador” de crianças (leia-se “babá”), pois o pedagógico foi desprezado.

A principal meta da escola pública está na eliminação da “lista de espera” das creches, sem regulamentação legal do espaço físico mínimo por aluno, das condições didático-pedagógicas da escola (ausência de professor, de brinquedos, de áreas livres e playground). Não há um auxiliar de professor em turmas acima de 20 alunos com idades de 3 a 6 anos, amontoando-se todos estes numa mesma sala, entre outros absurdos.

O MEC hoje destina 75% dos seus recursos aos quase 10% que concluem o ensino superior e, apenas 25% aos 98% que ingressam no ensino fundamental. Isso é investir em futuro?

Será que os investimentos (salas ambiente, laboratórios, equipamentos, estágios etc.) e planos de benefícios para a formação de professores são, ao menos, semelhantes ao que é dedicado para a formação de médicos, dentistas, engenheiros etc.? Gostaria de ver um comparativo a respeito.

Enquanto não houver investimentos e não for priorizada a educação da criança e a formação dos professores da educação infantil, os valores humanos estarão cada dia mais distante da sociedade.

Para concluir faço um lembrete aos professores do topo da cadeia educacional: Vocês fizeram diferença para apenas 10% dos brasileiros, porém os educadores da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental fizeram a diferença para 100% de todos os que hoje possuem formação universitária, inclusive os mestres e doutores.

Ainda, uma sugestão ao Ministro da Educação: a legislação trabalhista outorga muitos direitos aos trabalhadores. Seria maravilhoso se, entre esses direitos, fosse concedida a dispensa do trabalhador, por meio período, mediante atestado fornecido pela escola, para que ele pudesse participar das reuniões de pais e educadores (quatro por ano). Seria um enorme benefício aos pais, às crianças e à sociedade, esta como beneficiária de crianças, jovens e futuros adultos mais seguros, “cidadãos do amanhã” mais sadios e com mais competência para inserção e ascensão ao mundo social, pessoal, escolar, profissional e nas relações sociais.

 

Rita de Cássia Sales Giraldo

Professora de Educação Infantil